
Interferência construtiva I
de Duda Penteado, pinturas e fotografias de Luiz C. Ribeiro
A justaposição de imagens pintadas e fotografadas não é nova, estando connosco há cerca de um século. Por isso, estamos sempre interessados em saber se uma ideia antiga pode receber uma nova vitalidade, uma nova expressão estética. Proponho que este objectivo tenha sido alcançado com a Interferência Construtiva.
Como é que isto aconteceu? Penso que o sucesso desta colaboração reside no conteúdo expressivo inerente à abordagem do fazer artístico de cada um destes artistas e na natureza de um Brasil que está a ser seriamente escrutinado em relação à sua inerente e natural transcendência e à apreensão de que a sua sobrevivência está em risco. Devido a esta combinação de inquietação e beleza, estas imagens são inquietantes. E são ao mesmo tempo particulares do Brasil e universais. No entanto, a sensação de um espírito reinventado do tropicalismo parece ter um efeito mais regional.
Os dispositivos artísticos utilizados para obter este efeito são a superfície plana do plano fotográfico, que se baseia na nossa memória para recordar a realidade tridimensional; e, por contraste, a projecção viscosa e em baixo relevo do pigmento a partir desta superfície plana, que na realidade se afasta do olho na perspectiva aérea natural. Esta aparente desconexão é travada pela sensibilidade mística, espiritual e cósmica que Penteado e Ribeiro conseguem projectar.
Há alguns anos, perguntei a Penteado se ele consideraria ser mais um artista brasileiro, um artista que usa o Brasil como ponto de referência. Já referi que o Brasil está em ascensão, apesar de alguns aspectos negativos para o seu habitat natural. Parece que essas imagens falam das justaposições inusitadas, das contradições extremas e das harmonias peculiares que compõem o Brasil. Imagino que o título que os artistas escolheram para a sua exposição se refira às percepções que se manifestam na sua forma de ver o Brasil – e para além do Brasil.
